10/01/2013
Daniel Blume, advogado
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Demais se falou em fim do mundo, durante dois mil e doze, principalmente nos últimos dias. Motivo: o antigo calendário maia anunciava nosso fim em vinte e um de dezembro passado, o que felizmente não aconteceu. Portanto, ainda se está aqui. A vida permanece.
Nas ruínas maias de Chichém Itzá, no México, multidão celebrou o fim que não veio. Idem na praia de Copacabana, no Rio. Não foi a primeira vez que se viu frustrado o prenúncio do fim do mundo. Nem será a última, certamente. Que o diga Nostradamus. Fico com a verdade das Escrituras, do juízo final, Apocalipse.
O fato é que, ao longo da história, sempre que se aproximam as “datas fatais” emergem inevitáveis debates sobre o que se faria no último dia. Uns superariam o medo e arriscariam a vida sem maiores problemas, ao escalar uma montanha, pular de pára-quedas, nadar com tubarões, enfrentar leões em um safári, ou dar vazão a prazeres efêmeros de publicação dispensável. Outros gastariam integralmente seus dinheiro e crédito, sem contas futuras pra pagar.
Se o mundo tivesse acabado, gostaria de ter passado meus últimos dias com minha família. E assim desfrutar pequenas, simples, baratas, incomparáveis coisas imersas ao cotidiano. Falo dos beijos das filhas, do carinho da esposa, do papo despretensioso com meus pais e irmãos, do cafuné da mãe, da água-de-coco gelada, do aconchego de casa, do almoço e da oração em família, do filme com pipoca, do banho na piscina no calor das meninas, do sorvete de tapioca, da caminhada na praia, da leitura na rede. Importante: também ficaria momentos a sós com Deus, quando agradeceria pela vida que tive e teria após o fim ou começo.
A reflexão acerca do que, na essência, mais importa na vida não pode ficar vinculada a previsões catastróficas (ou ao reveillon). Deve ocorrer todo dia, a cada abraço, lágrima, oração, presente, prato ou sorriso. Um exercício diário despido de pessimismo, mágoa, rancor – medida difícil e possível.
Segundo Chaplin, em passagem bem conhecida, “Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar”.
Com o fim da perspectiva do fim do mundo maia, vem dois mil e treze. E chega permeado de sonhos e projetos a serem efetivados. Um deles há de ser a valorização do que não se compra ou impõe. Daquilo geralmente percebido só quando perdido. Falo do simples fundamental. Digo de Deus, família e vida curtida (e compartilhada) não apenas na face, no face. E que seja real, sentida, desfrutada e intensa. Eis a tônica, a crônica. Feliz recomeço!
A ASPEM deseja a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!